A Alegria é a grande "vilã" de Divertida Mente 2 - e o filme vacila ao não assumir isso
A Ansiedade é sempre um sintoma de algo maior...
Divertida Mente 2 parte de um conceito interessante, só que se apega aos vícios das continuações num filme com mais personagens, cores e aventura, mas menos profundidade. Limitar a ansiedade a um antagonismo raso reduz a complexidade desse estudo sobre os perigos na superproteção. A vilã, aqui, é outra...
A diretora Kelsey Mann propõe um diagnóstico superficial quando Riley entra na puberdade e se vê pressionada para fazer parte de um novo time de hockey. É tentador tratar a ansiedade como o agente da desordem. Um problema que, cada vez mais precocemente, tem cruzado o caminho das novas gerações. Só que ela é apenas um sintoma. Uma consequência. É inteligente como o longa posiciona a Ansiedade dentro da história. A nova emoção surge como um mecanismo de defesa perigoso. Ela quer antecipar as coisas. Evitar que Riley experimente novas frustrações. Ela surge para ocupar um vazio de possibilidades gerado pela ação de uma outra emoção.
A grande vilã dessa história, mais uma vez, é a Alegria. Só que Divertida Mente 2 reluta em assumir isso com a contundência do longa anterior. Se no primeiro filme toda o caos experimentado por Riley partia da tentativa - bem intencionada - da Alegria em reprimir a tristeza à qualquer custo, na continuação a personagem alto astral começa a se livrar de memórias conflitantes como se o esquecer fosse o suficiente para evitar toda e qualquer ferida íntima.
De fato, a Alegria tinha alguma razão ao entender que parte dos nossos conflitos nascem da dificuldade que a maioria de nós temos para lidar com os erros. Com as memórias que machucam. Com as angústias geradas por equívocos. O remorso pode ser corrosivo. A culpa pode ser punitiva. A dor pode gerar medos, inseguranças, frustrações... A Alegria, mais uma vez, só queria proteger Riley.
Mas ela faz isso às custas do aprendizado que nasce desse processo. Nem todo erro ou falhas irão ensinar - alguns só geram traumas mesmo - mas sem eles estamos fadados a eterna repetição. O que explica o fato de uma Riley mimada e superprotegida se perceber à mercê da ansiedade no momento em que experimenta a perda do controle diante da puberdade, de novas ambições e de velhas inseguranças.
A solidão, aqui, volta a ser um tema central. Só que dessa vez o estudo de personagem soa bem menos profundo quando notamos que, além de replicar a estrutura narrativa do original (tudo passa mais uma vez pela perda de controle da Alegria), o filme não parece tão empenhado em questionar os efeitos da positividade tóxica na formação de uma criança/adolescente. A ansiedade, nesse cenário, se torna então um antagonismo conveniente e os novos meros personagens penduricalhos narrativos para vender mais bonecos bonitinhos. Peças importantes como a Vergonha, por exemplo, acabam suprimidas por um roteiro que, entre mostrar o estrago causado pela ansiedade e construir a aventuresca jornada das demais emoções, simplifica todo o resto.
Mas Divertida Mente 2 segue um filme lindo. De encher os olhos visualmente. A continuação nem precisa expandir o universo para soar convidativa. São traços expressivos. Personagens carismáticos. Novas cores. Novas tonalidades que sugerem a metamorfose da adolescente. Novas referências. Cenas realmente comoventes (o ataque de ansiedade passa longe de ganhar contornos lúdicos). O padrão Pixar de qualidade "grita" aqui. É belo, só não é catártico. Porque a potência visual, ao contrário do original, não está diretamente ligada ao peso dramático, mas à procura da hiper estimulação narrativa típica das continuações.
Nota: 6,5/10
“Divertida Mente 2” está disponível na Disney+.