"As Cores do Mal: Vermelho" usa o mistério para acessar a dor de uma mulher vítima de uma trágica realidade
Suspense da Netflix é mais interessante do que parecia ser
"As Cores do Mal: Vermelho" desafia uma lógica comum em thrillers investigativos - a do "corpo fala" - para dar voz a vítima de um crime brutal. E faz isso determinado a enxergar a tragédia escondida no mistério. A produção Netflix assume a violência como um instrumento de choque, mas sempre consciente da natureza sensível do tema em questão.
Essa é a história de Monika (a expressiva Zofia Jastrzebska), uma jovem independente que, meses após começar a trabalhar numa casa noturna, aparece morta em condições brutais. O que chama a atenção de Bilski (Jakub Gierszał), um procurador determinado a encontrar a identidade do ass4ssino. Tudo apontava para um único suspeito. Todos pareciam ter pressa. Só que o investigador logo descobre que escondido naquele crime existia uma história trágica e segredos muito perigosos.
"As Cores do Mal: Vermelho" começa como muitos suspenses criminais da Netflix. Existe um mistério. O investigador assume o centro da narrativa. O roteiro projeta as suas pistas falsas num fluxo de revelações que traz contornos mais tensos a história. Era intrigante, mas pouco original. Isso até o diretor Adrian Panek reestabelecer o seu senso de prioridade. O filme cresce quando entendemos que Monika não era um corpo sem voz.
É interessante como o cineasta usa o mistério para investir em uma trama que ganha uma natureza trágica à medida que a vítima entra no centro da investigação. Os pontuais flashbacks conduzem a história para uma silenciosa zona sensível em que a vulnerabilidade feminina num mundo machista e abusivo se torna o agente da tensão. A busca da identidade do assassino fica em segundo plano no momento em que o diretor enxerga além da impotência da vítima e acessa - através dos olhos dela - uma realidade muito violenta.
É doloroso ver aquela personagem cheia de vida ser consumida pouco a pouco. O filme é cuidadoso ao nunca explorar o sofrimento feminino em sequências gráficas ou explícitas. A sugestão, aqui, já é impactante. E as consequências são investigadas com inesperada sensibilidade em cenas que invadem a intimidade de Monika determinadas a enxergar um outro lado da tragédia. É pesado!
O que falta a "As Cores do Mal: Vermelho" é aquele senso de acabamento narrativo que impede o filme de alçar voos ainda mais altos. Existem alguns problemas de tom. A deslocada trilha sonora pop, por exemplo, rivaliza com a natureza dramática ao tentar trazer uma pouco convincente aura 'bad-ass' ao investigador. O filme navega na superfície também ao discutir temas como a ausência parental
e a culpa de uma mãe com o poder de fazer diferente. No último ato, além disso, o filme se rende a uma reviravolta apressada, daquelas que se sustentam em conveniências para "acontecer".
Só que mesmo nesses momentos, "As Cores do Mal: Vermelho" nunca perde o foco. O plot twist, por sinal, reforça o olhar trágico para o destino de Monika quando levamos em consideração a identidade dos possíveis culpados e percebemos a fragilidade dela diante de todos eles. Um filme intrigante e doloroso que, mesmo preso a uma estética padrão, impacta ao enxergar o empalidecer de uma jovem que só queria ser livre.
“As Cores do Mal: Vermelho” está disponível na Netflix.