"Prenda a Respiração" tenta ir além da sensação de claustrofobia sensorial, mas esbarra em clichês aprisionantes
"Um Lugar Silencioso" da Disney?
"Prenda a Respiração" não parece ter vergonha de ser uma amálgama de outros filmes - melhores - que ganharam certo status junto ao público. Aqui você vai encontrar a imersão angustiante de "Um Lugar Silencioso". A sensação de pesadelo maternal num cenário de isolamento que só "Os Outros" conseguiu causar. Tem também o clima de paranoia crescente e desesperador que fez de "O Abrigo" um dos melhores filmes sobre o tema. As referências não poderiam ser melhores. Já o longa estrelado por Sarah Paulson tem momentos realmente tensos, mas termina se prendendo a lugares comuns um tanto frustrantes.
Nos anos 1930, Margaret (Sarah Paulson) era uma mãe protetora que tentava dar o melhor para as suas duas filhas num cenário de muita adversidade. O clima na remota região em que elas moravam estava seco, as tempestades de areia eram um perigo para a saúde das três e a crise financeira uma ameaça real. Quando a esperança delas começava a ruir, um pastor misterioso (Ebon Moss-Bachrach, o Richie de “O Urso”) surge na sua casa prometendo milagres e um período de bonanças em troca de abrigo. Só que não demora muito para ela perceber que ele não era o homem milagroso que dizia ser.
É promissor como "Prenda a Respiração" se dedica a mergulhar no cenário em questão para expor a realidade da família de Margaret e de todas ao seu redor. O medo é real. A solidão é gritante. O vazio é uma ameaça. É um começo lento, mas que causa uma inquietação natural à medida que o elemento sobrenatural passa a ganhar forma e alimentar as nossas dúvidas. Primeiro através de um livro sobre uma entidade conhecida como "Homem Cinza". Depois quando a figura do pastor entra em cena. O masculino, aqui, cria o desajuste. Ele traz promessas, mas também inseguranças.
A intenção dos diretores Karrie Crouse e William Joines era usar o terror para traduzir a paranoia feminina num mundo patriarcal que isola e silencia. Só que o filme entra em contradição quando se vê obrigado a alimentar o círculo vicioso que deveria - e até consegue - expor. Para entender a angústia de Margareth e desenvolver o terror, os cineastas reduzem a personagem às neuroses de uma mulher solitária determinada a proteger as filhas de um mundo que elas não conheciam, mas nós conhecemos. É sintomático, mas conveniente. E confuso também. Elementos são introduzidos e abandonados. O mistério envolvendo o ar “não respirável” é estabelecido, mas nunca desenvolvido.
Por mais que Sarah Paulson seja uma atriz excelente - e traduza a deterioração emocional da sua personagem sem sacrificar o instinto materno de Margareth, é frustrante como a pressa do roteiro em criar a ameaça dilui um estudo de personagem que deveria ser bem mais complexo do que realmente é. A ideia de usar a presença masculina para expor enraizadas feridas era promissora, mas o filme, ao não investigar a raiz do medo da protagonista, respinga no terreno da invalidação para legitimar o horror. O roteiro confia demais que o público vá entender a natureza dramática por trás das decisões daquela mãe (e o que elas representam no destino das filhas). Uma realidade que muitos, tal qual o próprio filme, insistem em diminuir.
O que é uma pena, até porque, embora o título sugira a literalização do senso de claustrofobia, a dupla de diretores cria um inóspito cenário desértico que só potencializa a sensação de estresse que invade a intimidade daquela família. É como se o mundo em crise ambiental simbolizasse um agente de opressão silencioso, mas sempre evidente. O filme, aliás, nos transporta para aquela realidade sem dificuldades, criando uma atmosfera imersiva a partir do refinado design de som, da caprichada iluminação das cenas soturnas e de uma montagem que parece se perder ao lado das personagens.
"Prenda a Respiração" é um filme tenso que enxerga a loucura como um mecanismo de fuga da realidade revelador. Só que, para isso, além de abandonar elementos que muito provavelmente conduziriam a história para uma zona bem mais inquietante, o longa se rende a um olhar envelhecido para um tema que merecia - eu diria precisava - ser modernizado.
Nota: 5/10
“Prenda a Respiração” está disponível no Disney+.