Rei morto, rei... BURRO!
O episódio 2x02 de "A Casa do Dragão" escancara a burrice na guerra
A burrice humaniza em "A Casa do Dragão". O episódio 2x02 escancara o enorme vácuo de poder deixado com a morte do Rei Viserys a partir da total incapacidade dos seus herdeiros em tomar uma decisão minimamente inteligente.
O que é uma delícia para o público.
Porque a série a partir de agora passa a trazer consigo uma zona de imprevisibilidade diferente da temporada anterior. Qualquer parece capaz de bagunçar o tabuleiro de Westeros. Todos parecem empenhados em agir para - quem sabe - chegar um pouco mais perto do poder.
Aegon está furioso.
A morte do seu filho inocente foi um golpe que o rei mimado nunca imaginaria tomar. Ele quer vingança. Custe o que custar. Só que Otto, o seu conselheiro real, enxerga uma oportunidade.
Essa seria a chance do rei ilegítimo abalar o status de Rhaenyra. Torná-la uma assassina de crianças aos olhos da corte. Uma manobra inteligente que poderia mudar o curso da provável guerra.
Só poderia... Porque esse é um episódio movido pela burrice de homens incompetentes.
Daemon pagou por sua desinteligência. Perdeu a confiança da única pessoa que ainda parecia crer nele. Mas Aegon queria mais. Ele se esforçou para cruzar todas as linhas da estupidez. O vácuo de poder é tão sedutor, tão acessível, que Criston Cole, o chefe de segurança mais incapaz de toda Westeros, resolveu agir por conta própria.
O seu plano era digno de piada.
Convocar Arryk, um dos seus comandados na guarda real, e fazê-lo tomar o lugar do seu irmão gêmeo Erryk, um dos soldados mais leais de Rhaenyra, para matá-la.
É "House of the Dragon" ou "Mulheres de Areia"?
Um plano digno de Ruth e Raquel (Glória Pires) que, para a surpresa de ninguém, enche Aegon de… ORGULHO! "Alguém aqui está agindo", bradou ele.
Para desespero de Otto.
Quando o homem mais sábio nesse tabuleiro de guerra olha para o céu e diz "que Deus nos ajude", saiba que algo muito errado está para acontecer. E é isso o que torna esse segundo episódio tão deliciosamente desastrado. "A Casa do Dragão" enxerga no vácuo de poder a chance de expor os seus personagens (mesmo que na escuridão de uma fotografia pouco convidativa). De humanizá-los a partir das suas perdas, inconsequências e ambições. Cole está cada vez mais perto da coroa, mas ele não tem a mínima noção do perigo nisso.
Já Alicent só pensa... NAQUILO! Nem o luto diminuiu o “apetite” dela.
Se por um lado é interessante ver como "A Casa do Dragão" tem escancarado a imaturidade e a desinteligência de quase todos após a morte do Rei Viserys, por outro é frustrante ver como uma das personagens mais ardilosas da primeira temporada está cada vez mais limitada aos prazeres sexuais. A mulher que lutou tanto por uma emancipação, mesmo que através do seu filho, se tornou uma peça menos interessante (e interessada) nesse tabuleiro.
Pelo menos por enquanto...
Porque a chama segue acesa no olhar da expressiva atriz Olivia Cooke. A tensa cena da procissão do príncipe morto sugere que ali ainda está a mulher inteligente que nós adoramos detestar.
Só que nesse momento, a focadíssima Rhaenyra parece muito mais digna de um protagonismo do que a sua "rival" Alicent. Após ver Daemon, o “merdeiro”, colocar a sua imagem em risco, a rainha legítima decidiu mostrar quem manda ali. E suas decisões, silenciosamente, já ajudaram a mudar o curso dos eventos.
A grande cena desse episódio 2X02 de "A Casa do Dragão" não é o confuso duelo entra a Ruth e a Raquel de Westeros. Tampouco o desespero de Otto ao descobrir que perdeu tudo para o ser mais incompetente dentro da Fortaleza Vermelha.
O grande momento é o encontro entre Rhaenyra e a ex-ambiciosa Myseris.
Ali, duas mulheres em posições totalmente distintas unidas pelo abandono e pela constante invalidação, entram em sintonia num diálogo que remete diretamente ao espírito da primeira temporada. À frustação feminina diante da errática dominância masculina.
Enquanto Alicent segue refém dos seus sentimentos pelo medíocre Criston Cole, Rhaenyra pode ter encontrado uma aliada importante para o futuro da guerra.
Alguém ainda parece pensar em "A Casa do Dragão".
Nota: 8/10