"Terrifier 3" encontra novas formas para chocar o público, mas a violência é quase tão extrema quanto a repetição
Novo orçamento, velhos problemas
"Terrifier 3" é o mais perto que a franquia chegou de contar uma boa história de terror. O diretor Damien Leone assina um filme grotesco, barulhento, visceral, com um senso de humor sádico, mas que - em meio ao banho de sangue - encontra um sólido elemento dramático ao trazer a melancolia natalina para o centro da continuação. E isso sem precisar se levar a sério para estabelecer um senso de consequência.
Após acreditar que tinha colocado um fim ao bizarro palhaço Art, Sienna (Lauren Lavera) só queria voltar a ter uma vida normal. Só que os traumas do passado seguiam vivos na mente dela. Convidada pelo tio para passar as festas de final de ano na casa deles, Sienna encontra uma oportunidade de experimentar um pouco da paz tomada pelo assassino. O problema é que Art estava de volta e à procura de vingança.
É interessante como em "Terrifier 3" a ideia de situar o filme na época do Natal está longe de ser algo meramente oportunista. Mais do que capitalizar em cima da 'skin' Papai Noel psicótico, Leone enxerga o vazio experimentado por muitos como um ponto de partida para um filme que não parece querer apenas encontrar novas e bizarramente imaginativas formas de chocar o público. Dessa vez ele queria contar uma história. E o arco de Sienna era promissor.
A jovem emocionalmente instável se vê a mercê não só das memórias de um passado violento, mas das lembranças de um família que não existia mais. Ao mesmo tempo em que tentava criar novas raízes, a protagonista sabia que poderia se tornar um problema. E Damien reforça essa sensação de desajuste à medida que Art surge como a ameaça da qual ela não conseguia escapar.
"Terrifier 3" segue banalizando a violência ao extremo, mas, até nesse ponto, o filme ganha um caráter bem menos literal na comparação com os anteriores. Existe um claro comentário sobre a diluição dos "valores" natalinos aqui. Art se aproveita da solidão. Ele "ataca" os descrentes, os consumistas, aqueles que se recusam a ouvir. O diretor escancara o olhar moralista da sociedade americana a partir dos códigos do cinema de horror enquanto cria novos traumas que colocam em risco não só Sienna, mas o ideal de família que ela tentava reconstituir. Ela é menos uma 'final girl' destemida e mais uma jovem com angústias reais e muito a perder.
O problema é que, mais uma vez, "Terrifier 3" se limita pelo choque. O filme ganha ares cansativos a cada momento em que o realizador dedica um tempo longo demais para congelar "participações especiais" ou desmembrar adolescentes aleatórios. Entenda... Eu não estou cobrando "seriedade" aqui. Nunca iria diminuir um filme de terror por mergulhar no absurdo sem pudor. O que me frustra é notar que "escondido" na violência gráfica existe o vazio. São sequências explícitas. Minutos de gritos genéricos e ruídos torturantes. Era assim no primeiro filme. Foi no segundo. Segue no terceiro. O que mudou foi o orçamento (US$ 2 mi contra os US$ 35 mil do original) e o inegável amadurecer estético. É pouco! Uma hora cansa...
O terceiro filme, em especial, me frustrou mais porque o rastro de mortes parece sempre muito distante da protagonista. E quanto Art cruza o caminho de Sienna tudo acontece de forma abrupta. Com detalhes perversos que permanecem na elipse. Damien Leone sabe o que quer ele consegue criar sequências chocantes/enervantes que se renovam a cada longa, mas ainda não parece capaz de torná-las parte de boas histórias. O que fica evidente quando notamos o descuido do diretor em expandir a própria mitologia. Tudo o que diz respeito a "nova" ameaça me parece jogado em tela. Eu não queria explicações. Eu falo em desenvolvimento. Em construção de personagem. Ela surge apenas como a voz que falta a Art. Ao ponto de ofuscar a própria presença do palhaço, outra vez vivido com um senso de irreverência doentio pelo ator David Howard Thornton.
"Terrifier 3" ousa querer mais, é cinematograficamente nauseante, tem um clímax que eleva o patamar da série, mas perde inúmeras oportunidades pelo caminho ao perseguir o choque a qualquer custo.
Nota: 5/10
“Terrifier 3” está disponível nos cinemas.